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OPINIÃO: Família: o ninho desejado


Já era tarde da noite quando encerrei minha aula e descia pelas escadas desertas em direção à garagem do prédio. Foi quando a vi, sentada nos degraus, com um celular na mão e chorando baixinho. Era uma jovem acadêmica que também estava saindo e, acidentalmente, havia torcido o tornozelo, não conseguindo andar. Estava sozinha e sentia muita dor. Quando me viu pareceu aliviada, sendo que, imediatamente, liguei para a portaria, em busca de ajuda. Sentei-me ao seu lado, procurando acalmá-la, quando ela relatou que estava tentando ligar para seu pai. Para minha surpresa, ela informou que ele morava em outra cidade, porém era a única pessoa a quem ela lembrou de pedir ajuda naquele momento de dor. Recordei de meu tempo de docência na UFSM, quando recebia os alunos no seu primeiro semestre, ao mesmo tempo em que trabalhava com o estágio profissional junto aos formandos.

Observava que os calouros, recém-chegados de outras cidades, ostentavam a alegria das novidades e comemoravam a liberdade e a autonomia que passavam a desfrutar na nova vida. Por outro lado, os formandos, há quase cinco anos afastados de suas famílias, diversas vezes vinham solicitar dispensa das aulas, para ampliar os feriados, relatando a saudade de seus lares. Isso é família. Essa instituição tão questionada, mas valorizada, ainda que se apresente das mais diferentes formas. Das suas históricas funções de cunho patrimonial, religioso, reprodutivo, político e econômico, hoje ostenta uma função instrumental eudemonista. Família é um lugar onde nossa vida encontra sentido, nossos feitos são valorizados, nossas tristezas são confortadas e nossa felicidade é efetivamente compartilhada.

Como referiu a psicanalista francesa, Elizabete Roudinesco, a família é reivindicada como único valor seguro ao qual ninguém quer renunciar. Ela é amada, sonhada e desejada por homens, mulheres e crianças de todas as idades, de todas orientações sexuais e de todas as condições. Sobre esse local de convivências e afetividades é que iremos refletir quinzenalmente. Sobre os dramas familiares, seus direitos, deveres, cotidianos, memórias, afetos e convivências. Enfim, falaremos sobre o lar. Sobre o ninho de todos nós. Aquele lugar que dá sentido à nossa vida e que constrói nossa história, somando-se com a dos nossos antepassados. Iniciamos nossos encontros em um momento muito especial. A época em que acontece a maior festa cristã.

No Natal as famílias desejam estar reunidas, pois é momento de celebração e festa. Que todos comemorem esse dia, com graças e bênçãos, e que o ninho familiar se encha de fé, esperança e afeto, pois nossa existência só encontra sentido quando temos paz e felicidade. Que seja um feliz Natal e que nosso encontro, nesse espaço, se torne "familiar" a todos.

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